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TEXT -  ( curator Emília Ferreira )

RITUAIS DE ALEGRIA
Antigamente, as meninas aprendiam prendas. Desenho, bordado, uns toques de piano, frases bem construídas em francês. Não deviam fazer disso um saber a usar profissionalmente, apenas ter esses dotes, essas mãos fazedoras de estrelas para usufruto caseiro. O prazer da família, à parte a questão social, refletia-se na ritualização do uso dessas prendas. E as casas tomavam assim o perfume dos gestos de gerações e gerações de mulheres que misturaram água, sal, farinha e fermento para fazer pão, ou que juntaram mais ingredientes para fazer bolos, licores, cozinhados vários que depois serviam, com mãos sabedoras, sobre toalhas bordadas também por elas. As memórias (ou um certo sentido de continuidade, de tradição) dessas casas e dos saberes dessas mulheres acompanham-nos sempre. A elas associamos os dias da infância, os dias felizes.
Dias Felizes é exatamente o título que Ana Pimentel escolheu para esta mostra de 12 trabalhos sobre tela e sobre papel (o mesmo é dizer, pintura e desenho) feitos nos últimos anos. Neles encontramos aquilo a que já nos habituámos a reconhecer na gramática da artista: o gosto pela geometria, pela mistura surpreendente (e até inusitada) de materiais, a explosão da cor, a felicidade da experimentação. Porém, nos últimos anos, depois de uma fase talvez mais depurada no início da década anterior, o trabalho de Ana Pimentel apropriou-se da alegria.
 
Conviria explicar melhor esta afirmação. Conheci a artista há exatamente 10 anos, quando organizei uma sua exposição na Casa da Cerca. Então, Ana Pimentel escolheu como título “No meu próprio espaço”. Olhando em volta para os trabalhos então expostos, era clara a sua busca por uma proposta identitária, no tecer de um lugar ao qual pertencia: pontos, linhas, cores sobre o branco ligavam-se a uma metáfora do interior do corpo dada através de radiografias (não suas, naturalmente, explicava já para sossegar o público). Uns anos depois, como se saindo desse casulo inicial, ela toma nas mãos saberes tradicionais da cultura portuguesa (rendas, bordados, inspiração floral — da natureza à arquitetura, misturando assim as nossas várias casas, do interior ao jardim, ao bosque dos passeios e das páginas dos livros, até aos mosaicos e às rosáceas das igrejas de outros tantos rituais e vivências) e torna-as suas, misturando-as como padrões, misturando-as voluptuosamente.
Olhamos para estas 12 obras desta nova exposição de Ana Pimentel e sentimos vontade de rodopiar. Memórias de infância atropelam-se. Saias rodadas, danças de roda, rodas de pares envolvendo-se na música. E depois evocações da vertigem dos beijos, dos sentimentos avassaladores e felizes.

Quase se poderia dizer que Ana Pimentel apresenta uma proposta estruturalista: uma vontade de mostrar o que nos une, numa cultura que se enraíza na festa — e, assim, numa pluralidade de culturas —, nos vários momentos metamorfoseados em lembranças, criando o vasto tecido da memória, do passado.

Como o opera? Através da acumulação e de uma cuidada organização. Cores fortes, contrastantes, estruturam as composições. Sobre a paleta base (lisa ou padronada) uma outra paleta se organiza em colagens de papéis, em bordados, em bordaduras de tintas que contêm e se unem para contar as estórias. Os títulos evocam tanto como as pétalas, os corações, as borboletas, os fios, as frases caligrafadas, as rodas mágicas de uma engrenagem de vida — o fio de uma vida.
Camadas sobre camadas vão contando estórias. Apetece espreitar, como para dentro um baú de uma avó que se abre com emoção e do qual se soltam perfumes de Lúcia-lima, a cânfora da madeira, o rosmaninho de dias antigos, imemoriais. Nestas obras, porém, nem todos os materiais são intemporais, ou sequer antigos. Mas isso pouco importa. O que verdadeiramente interessa aqui é a revisitação da tradição. O que verdadeiramente importa aqui é a transmutação da geometria, nessa floração da forma e da cor, em pura alegria.
Tal como num pão que se amassou, num bordado no qual a linha foi duplamente planeada, desenhada sobre o pano e depois alinhada a gestos certeiros da agulha, também aqui pinturas e desenhos nos são dados como oferendas. Reconhecemo-lo com clareza porque todos, algures, temos uma casa de infância perdida na memória. Reconhecemo-lo por todos temos, algures, um lugar a que regressar. No perfume das flores, em cada uma que guardámos num livro, em cada carta que escrevemos.
 
Ana Pimentel recupera o nosso passado e, muito para além das prendas femininas, oferece-nos nas suas elaboradas e felizes composições, um bocado de paraíso, uma caixinha de benignidade aqui mesmo. Quando por fim deixamos os seus quadros, saímos da sala a dançar.

Emília Ferreira  
Almada, Julho de 2013

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Solo Exhibition
Cascais Cultural Centre
JARDINS SECRETOS 
painting | drawing | Inatallation | photography
Text: Luísa Soares de Oliveira
Cascais-Portugal
November 29, 2013 / February 9, 2014
http://www.fundacaodomluis.com/




Jardins secretos

Na obra de Ana Pimentel, a invocação do jardim tem sido uma constante. Desde praticamente o início da sua carreira que a pintora demonstra um fascínio evidente pela cor e pela forma da flor, que dispõe ora em pinturas de dimensões variadas, ora em mesas construídas pela "assemblage" de imitações de tecido. Coloridas e alegres, estas obras permanecem num universo tradicionalmente conotado com a mulher, e ligadas, pelo próprio processo de construção, a uma antiga tradição manual que permanece na nossa contemporaneidade.
 

Mas não só: Matisse, esse pintor da alegria, é uma referência que afloramsobretudo nas pinturas. Chamar-lhes pinturas pode, à primeira vista, parecer despropositado, já que estas obras procedem da colagem para se realizarem. Papéis coloridos, "stickers", autocolantes conjugam-se com uma série de objectos de proveniência diversa para construir o resultado final de cada obra. A pintura é aqui entendida como conceito, como referência presente numa contemporaneidade que parece já ter inventado quase todas as formas de a concretizar. Ana Pimentel sabe que, hoje em dia, a classificação das disciplinas artísticas opera com base nos suportes escolhidos, talvez porque a criativididade própria ao ser artista se exprime sem freios sobre esse mesmo suporte. A pintura, neste caso, consiste na imagem que se apresenta na tela. Mesmo quando essa imagem não é, à partida, fabricada pelo artista, mas recortada, colada, fotografada.
 
Mas regressemos ao tema do jardim. Metáfora do Paraíso celeste, na Idade Média, ou lugar de encontro do sujeito com a sua intimidade através da mediação da natureza, o jardim possui essa capacidade tão rara nos dias de hoje de nos permitir o encontro com a beleza. Os jardins de Ana Pimentel, se não se constroem com a terra e as plantas que são habituais neste tipo de dispositivos, convocam os modos de representação do jardim que a sociedade de consumo dissemina. Os materiais de que a artista se serve podem ser encontrados facilmente no comércio, e a sua vulgarização merceria uma análise sociológica cuidada a realizar num âmbito diferente do desta exposição. Com efeito, nestas obras não encontramos qualquer posicionamento crítico em relação à sociedade urbana em que todos vivemos, onde tantas vezes esse encontro com a natureza apenas é possível através da mediação de uma imagem, ou mesmo de uma planta verde colocada no seu vaso ao canto de uma sala de estar… O processo de Ana Pimentel é, em tudo, oposto a esse: apropria-se da imagem, reutiliza-a na tela, na instalação, no desenho ou na fotografia, e exibe-a, sem a criticar, como signo poderoso dos meios de que dispomos para usufruir da beleza.
 
Contudo, o jardim é também arquitectura e luz. O candeeiro, que conjuntamente com a instalação principal apresentada sobre tripés, ilumina parte da exposição,,relembra que um jardim será sempre idealizado para um tempo perfeito, banhado pela luz brilhante de um dia de sol estival. Do mesmo modo, no decorrer dos tempos e dos estilos artísticos, a arquitectura paisagística obedeceu a normas que pretendiam submeter a natureza a um modo particular de representar o mundo. Ora perfeitamente geometrizada, como na época do classicismo francês, ora romântica e falsamente desordenada, como era hábito durante o romantismo (que não hesitava, por exemplo, em construir "ruínas" que suportassem e confirmassem a ficção de uma vegetação virgem e intocada pelo fazer do homem), essa natureza obedecia sempre, em primeira instância, ao trabalho do desenho de projecto que idealizava o espaço a
 
ocupar pelo jardim. Um grande painel de desenhos, com os seus esboços sucintos de espaços perspectivados, parece fazer referência ao labor do arquitecto paisagista, e não só: a todas as representações pela pintura do espaço natural, ou melhor dizendo- à pintura de paisagem, e ao seu lugar de destino: um interior, casa ou museu, que a acolha e onde ela possa cumprir a sua função de janela para o mundo.
 
E, no entanto, como estamos distantes deste longínquo referente. Como ela nos escapa, essa pintura de paisagem, apenas acessível na obra de Ana Pimentel pela intermediação dos motivos florais criados pela sociedade de consumo e apropriados pela artista. Ana Pimentel transforma em arte o que não o é à partida, e isto principalmente porque nunca foi essa a intenção do técnico que criou estas flores de tecido ou os autocolantes com volutas em vinil. Existem obviamente outras referências na arte contemporânea feita em Portugal por mulheres que também se servem deste tipo de objectos para criarem: Joana Vasconcelos, por exemplo, ou Ana Vidigal são dois nomes que imediatamente nos vêm à memória. Significa isto que o trabalho eclético de Ana Pimentel se apoia numa linguagem partilhada por certas artistas, que têm em comum, para além das grandes diferenças entre elas, o processo de apropriação e reutilização de objectos pré-existentes.
Mas estes são os jardins secretos de Ana Pimentel. A alegria, a mesma alegria de que Matisse afirmou querer transmitir com a sua obra, é o que os distingue de todos os demais.

 
Luísa Soares de Oliveira ( critic art )



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Solo Exhibition
TAKE MY HEART
painting | Inatallation | photography
CAE SV - Arts Centre Sever do Vouga
Sever do Vouga - Portugal
January 25, 2014 / February 28, 2014
http://centrodasartesdoespectaculo-sv.blogspot.pt/





SINOPSE

Ana Pimentel reúne na sua obra uma complexidade de culturas e memórias, lugares, cheiros, cores e vivências de um passado remoto mas intemporal. Numa harmoniosa e impactante homenagem à vida Ana Pimentel utiliza uma linguagem de sinais e formas geométricas referenciadas na cultura tradicional Portuguesa ( arquitetura, festividades, folclore, ornamentos, rosáceas, mosaico, bordados, flores, rendas... ) bem como símbolos associados à paz, harmonia e felicidade ou mesmo ao erotismo e amor. O objetivo, é aproximar e fundir formas e espaços, numa pintura que se acumula através de camadas de tinta acrílica com efeitos de calor e luz, utilizando vários e diferentes materiais do uso recorrente, tecidos, fios, texturas e padrões interligando-os, recortando-os, repetindo-os ou sobrepondo-os de forma a impregnar a sua obra de uma peculiar e impactante alegria, paixão, amor e vida! Estas composições coloridas intensas e brilhantes são trabalhadas segundo uma determinada organização espacial e mediante um sentido primoroso e delicado processo de trabalho.


Ana Pimentel é licenciada em Artes Plásticas/Pintura pela Faculdade de Belas-Artes do Porto. Bolseira da Fundação Noesis de Barcelona. Com um importante percurso artístico internacional possui vários prémios atribuídos em Portugal, Espanha, Bélgica e China. Várias exposições individuais e coletivas bem como participação em feiras internacionais de arte contemporânea ( as mais recentes "ART KARLSRUHE " e "ART BODENSEE" ( com a galeria Neue Kunst Michael Oess - Karlsruhe ) e "ARTEBA" ( com a galeria Carla Rey Arte Contemporaneo - Buenos Aires ) No Brasil, apresentou uma exposição individual e itinerante durante 2 anos em locais como: Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, Centro Cultural Português, Brasília, Museu de Belém do Pará, Palácio das Artes de Belo Horizonte e Museu da Bahia. A sua obra está representada em várias coleções de arte publicas e privadas.



 

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